sexta-feira, 26 de abril de 2013

Concurso "Um conto que contas"

De acordo com o planeado e desenvolvido no âmbito da Oficina de Leitura e Escrita, os alunos produziram contos originais, cuja temática a abordar foi a matemática. Desta forma, a atividade revelou-se uma mais-valia no desenvolvimento e aplicação de conteúdos das disciplinas de Português e de Matemática, resultando contos bastante criativos. Eis um exemplo:


MATELÂNDIA
Certo dia, duas amigas, chamadas Maria e Beatriz, que andavam no 6.º ano, estudavam forçadamente para a prova final de Matemática. Estas raparigas não gostavam muito dessa disciplina mas, como precisavam de ter positiva no exame para transitar de ano, tinham de dar o seu melhor.
            Sim, a verdade é que nunca tinham estudado daquela maneira para matemática, logo não sabiam como o fazer. Então, Maria sugeriu:
             - Já sei, vamos estudar para a biblioteca!
             - Para a biblioteca?! Isso é coisa de betos e ainda por cima o Duarte está quase a sair do treino! – exclamou a Beatriz.
             - Blá, blá, blá, tu não pensas noutra coisa, Bea!
             - Olha quem fala! Eu sei muito bem que tu passas todos os intervalos a olhar para o Bruno! – provocou a Beatriz.
             - Muito bem vou admitir… Eu não gosto dele, ponto. – exclamou a Maria com arrogância, corando um pouco.
             - Pois eu sei muito bem que gostas! – disse a Beatriz tocando com o cotovelo no braço da Maria.
             - Ah, pois está bem, mas agora vamos estudar! – aconselhou a Maria.
             - Olha tu hoje não gostavas de ir a minha casa para estudarmos para a prova? – perguntou Beatriz.
             - Não sei, tenho de ligar à minha mãe. Mesmo que eu lhe diga que vamos estudar, não sei se ela vai deixar!
            - Pois, ela vai achar no mínimo… estranho! – disse a Maria.
No entanto, para surpresa das duas amigas, a mãe da Maria deixou-a ir, pois não conseguiu dizer “não” à filha, na primeira vez em que a viu com vontade de estudar.  
             Em casa da Beatriz, as duas amigas acharam que tinham de ter uma “inspiração extra”, por isso, decidiram acampar no jardim da Beatriz. Depois de terem a autorização dos pais, foram para o jardim montar as tendas.
             - Muito bem, está tudo preparado… - disse a Beatriz com uma cara alegre.
             - Espera! Então e os livros de matemática? – perguntou a Maria.
             - Pois esqueci-me completamente!
             - Nem quero acreditar que nos íamos esquecer dos livros de matemática, Beatriz.
             - Tens razão. Acho que nos entusiasmámos – concordou a Maria.
             De repente, ouviu-se uma voz que vinha da casa da Beatriz.
             - Beatriz, falta-vos alguma coisa? – perguntou a mãe da Beatriz.
             - Sim, é a tua mãe…
             - Pois só ela é que grita assim… - sussurrou Beatriz
            - Não, mãe, estamos ótimas, podes ficar descansada! – respondeu Beatriz à sua mãe.
            - Estou a ficar com frio, vamos entrar na tenda. – sugeriu a Maria, aproximando-se da mesma.
 - Maria… Temos um problema… E DOS GRANDES. Não consigo abrir a tenda.
            - Que ridículo é impossível que esteja estragada, eu comprei-a há três semanas!
            - Ajuda-me aqui!
            - Eu não consigo tenta tu! – ordenou a Beatriz.
- Não acredito, a tenda está mesmo estragada, pelo menos parece. Vamos tentar as duas juntas.
            - Um, dois, três… Puxa!
            - Conseguimos… A isto é que se chama trabalho de equipa.
- Bea, não estás cansada? – perguntou a Maria, enquanto procurava uma posição confortável para estudar.
            - Sim, confesso que estou estoirada! Mas, temos de ser mais fortes do que o sono. – respondeu a Beatriz não conseguindo resistir a um bocejo.
            - Acho que não vou aguentar mais tempo.
            - Concordo contigo. Se calhar, o melhor é dormirmos e estudarmos amanhã, quando tivermos a cabeça mais fresca.
            As duas amigas adormeceram. Estavam cansadas e ao mesmo tempo preocupadas com a prova. Faltavam cerca de duas semanas e, por mais tentativas que fizessem, não conseguiam ganhar vontade de estudar. Para elas, a matemática reduzia-se a números que se combinavam de formas estranhas, formas essas que nunca chegavam a compreender.
            Entretanto, no meio de tanto cansaço e preocupação acabaram por sonhar… com matemática.
            A Beatriz começou por pensar que estava a viver um pesadelo. Encontrava-se num sítio rodeado de árvores que “eram números”. As nuvens tinham nelas escritas números e faziam cálculos entre si. O sol estava no meio deles e sim… ele era o “0”, também entrava no cálculo.
            No ar voavam muitos pássaros coloridos uns atrás dos outros. Beatriz ouvia-se dizer: eles movem-se, essa transformação é uma translação. No cimo de uma colina, via-se um moinho. Soprava uma brisa que fazia com que as suas pás se movimentassem… o movimento é uma rotação. Beatriz sentiu-se confusa: em vez de um moinho, começou a ver dois moinhos. Não, vendo melhor era apenas o seu reflexo. O lago era como um espelho… olha uma simetria de reflexão, pensou Beatriz.
            Beatriz continuava a explorar o mundo muito curiosa, agora acompanhada por uma joaninha.
Curiosamente, Maria também sonhou com a matemática. No sonho, tinha problemas matemáticos para resolver, mas como não os sabia solucionar, estava muito envergonhada. Não fazia a mínima ideia de como sair daquele lugar estranho, então decidiu pedir ajuda a uma tartaruga.
            - Desculpe senhora Tartaruga, acha que me podia ajudar? – perguntou Maria desconfiada.
            - Claro que posso, mas, tem que ser rapidinho estou ocupadíssima! - respondeu a senhora tartaruga.
            - Sim, é verdade deve estar muito ocupada tal como estão todos os outros habitantes! Bom, gostaria de saber onde estou e o motivo de tanta agitação!
            - Estás na Matelândia, o paraíso da Matemática! E esta agitação na vila é por causa do tão conhecido "Dia da Matemática"! - exclamou a senhora tartaruga animada.
            - O que é que quer dizer com o "Dia da Matemática"? Esse dia nem sequer existe! Está a inventar tudo! – disse a Maria com um ar atrapalhado.
            - Quase ninguém acredita, mas é verdade, pois este planeta não é conhecido! Aqui pode aprender todo o tipo de coisas relacionadas com a matemática, porque todo este mundo foi e é feito com ela e tudo o que está à sua volta também. - acrescentou a senhora tartaruga.
             - A sério? - perguntou a Maria.
             - Sim, é verdade! Quer vir comigo conhecer o festival? Assim irá conhecer um pouco mais acerca deste planeta! – exclamou a senhora tartaruga.
             - Sim, gostaria de conhecer, pois agora nesta viagem fiquei a conhecer e a gostar muito mais de matemática.
             - Então é melhor irmos andando, antes que possamos perder o dia mais esperado da vila.
             - Muito bem, precisa de ajuda para alguma coisa? – perguntou a Maria muito alegre e bastante confiante.
             - Na verdade preciso mas para me poder ajudar vai ter que saber quanto é que é 11X11.
             - Sim por acaso até sei... afinal não sei! Muito bem é...é... 11... não 101... – disse Maria indecisa.
             - Não, não, não está correto vou mostrar-lhe como se faz... olhe para este papel!
- É muito simples, 11X11=121, 111X111=12321 e 1111X1111=1234321 e assim sucessivamente. – disse a senhora tartaruga.
- Afinal é mesmo simples! Quem diria que a matemática poderia ser assim, tão divertida! – exclamou Maria, sem conseguir controlar a emoção.
No festival da matemática havia pessoas vestidas de números, operações, a tabuada... e muitos outros disfarces divertidos.
A Maria também participou e ficou muito contente mas reparou que tinha de regressar o mais rápido possível ao Planeta Azul, que era a Terra. A Maria perguntou como é que iria chegar a casa e descobriu que só comendo a “Laranja da Matemática” o conseguiria e assim fez.
De repente acordou e reparou que ao seu lado, Beatriz estava toda concentrada a indicar a fração que traduzia a razão entre a parte azul e a parte branca, da figura seguinte:
Ao reparar que Maria tinha acordado, Beatriz disse-lhe:
- Maria, não vais acreditar. Tive um sonho espetacular!
Ainda a esfregar os olhos, Maria respondeu:
- A sério? Jura! Olha que não foste só tu!
- Estou a falar a sério! No sonho, tinha de atravessar o pomar da matemática para conseguir regressar a casa. O que me valeu foi a minha amiga Joaninha que me disse qual era a palavra-passe para conseguir sair dali “Isósceles”.
            As duas amigas contaram os sonhos que tinham tido uma à outra e, como que por magia, sentiam-se cheias de vontade para estudar. Conseguiram resolver os exercícios como  nunca e descobriram que, afinal, nem era mau de todo viver na Matelândia.  
As duas semanas seguintes passaram a correr e chegou finalmente o dia da prova. E não é que os sonhos lhes deram as respostas para muitas perguntas!? A primeira parte do exame era toda sobre translações, rotações e reflexões. E a última pergunta: que nome se dá a um triângulo com dois lados congruentes? Ambas se lembraram da palavra passe para sair do pomar e responderam “Isósceles”.
A prova correu muito bem às duas e a partir daí, Beatriz e Maria passaram a gostar de matemática e a ter uma admiração especial pela Matelândia.
- Ufa! Esta já está! – disse a Maria.
- Pois é! E já sabes, para o próximo teste de matemática, voltamos a acampar em minha casa!
- Sim, pode ser que a joaninha e a tartaruga nos visitem outra vez!
As duas amigas despediram-se com um abraço muito apertado pois sabiam que iam passar muito tempo sem se verem nas férias. Estas férias iam ser certamente diferentes, pois, ao contrário de todas as outras, iam praticar matemática. Tinham finalmente descoberto que a Matemática não é nenhum demónio é simplesmente uma das coisas mais divertidas que há no mundo, que podemos encontrar nos filmes, num simples desenho e um pouco por toda a natureza.

Maria João Confraria e Beatriz Graça